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Old 12-11-2011, 01:02   #4
lugardopoco
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)Vejo duas formas de encarar estes trabalhos:

- A nível social: A grande maioria dos espectadores pensa que são lobos criados desde lobachos com pessoas, fortemente sociabilizados e o tema morre aí. Os poucos que conhecem bem a fisionomia dos lobos e a dificuldade que existe em trabalhar com eles numa área cheia de pessoas, máquinas e ruídos questionam-se individualmente mas raramente procuram a resposta. Os raros que por outras razões contactam conosco e a conversa deriva para esse tema ficam surpreendidos e apercebem-se que afinal, os CLCs não são bestas que foram trazidas para a companhia dos humanos. É nestas poucas situações que o trabalho dos cães nos média é válido para o conceito que a opinião pública tem da raça pois demonstramos comprovadamente que os CLCs são "trabalháveis". Percentualmente, é irrisório, mas certa vez, numa acção de formação, o formador disse-me: "Miguel, não tentes mudar o planeta num dia. Sabes como se come um elefante?... Mastigando um pedacinho de cada vez." Compro esta ideia. Saliento que depois dos nossos companheiros trabalharem numa novela, a maior parte dos expositores deixaram de fugir dos nossos parceiros no recinto das exposições.

- A nivel particular: É uma forma óptima de testar a sociabilização dos nossos cães. São deparados com situações novas num ambiente ruidoso. Onde temos que treinar novos comandos a velocidade relâmpago (aconselho vivamente o clicker). Muitas viagens, novas caras, diferentes paisagens, sons e cheiros. Aí verificamos se o trabalho que fizemos a nível de sociabilização é razoável ou necessita de melhorias. Há que ter algum espírito crítico também. Não podemos esperar que a equipa de realização tenha conhecimentos sobre os cães. Os limites devem ser estipulados por nós. Tivemos até agora, a sorte de trabalhar com o Fernando Silva, que além de óptimo treinador de cães (e pessoas ) têm um respeito absoluto pelo bem estar dos cães e não admite abusos.

Quanto a nós, a reacção das pessoas afectou-nos no que toca à sua admiração pelo trabalho que estes supostamente "animais pseudo-selvagens" conseguiam fazer. Isto relativamente à equipa das filmagens pois em relação ao público em geral, a resposta está escrita acima. Acima de tudo, é muito satisfatório poder dizer que num n.º grande de takes, apenas dois deles foram repetidos por causa dos cães. Num deles, a Queen tinha que ficar deitada enquanto um actor tirava um belo bife dum recipiente de plástico (não foi nada fácil!). Noutra, o a Queen devia atacar um suposto caçador. Em 3 tentativas ela "atacou-o" com lambidelas na cara! Tivemos que filmar dois takes distintos. Num deles a Queen saltou para o actor (para o saudar) noutro, colocámos à sua frente uma outra cadela desconhecida. Aí ela rosnou e filmaram um close up da sua cabeça. Depois da montagem ficou convincente.

Paula, não te iludas acerca da suposta semelhança na cultura e comportamento entre Brasil e Portugal. É tão afastado como entre portugueses e noruegueses. Há algumas semelhanças entre o Sul do Brasil e Portugal mas apenas aí. As reacções serão completamente distintas. Não é extrapolável.

De qualquer forma, garanto que valeu a pena por vermos a capacidade dos nossos parceiros, pelo convívio e pelas novas vivências.
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